sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Greve de Alunos

Prof. Dr. Lincoln Secco, do Departamento de História da USP

Imagine que durante uma greve de professores universitários os alunos tomem a seguinte decisão: "Como esta greve não é nossa, exigimos a contratação de professores substitutos, pois temos direito à aula". Jamais o movimento estudantil agiu desta forma torpe. Todavia, é comum que greves isoladas de alunos suscitem a ira mesmo de professores que fazem suas próprias greves. Argumentam que o corpo discente não realiza greve posto que não trabalha. Mas numa universidade acoplada intimamente à reprodução do capital é no mínimo duvidoso afirmar que professores, alunos de graduação e pós graduação não concorram coletivamente para a geração de conhecimento científico. Lembremos que a ciência é uma força produtiva. Mas o que importa é que a universidade não se reduz à sala de aula ou aos laboratórios de pesquisa. A sociedade espera dos estudantes que eles aprendam a conviver, a participar em assembléias, a decidir coletivamente e aceitar os riscos de suas decisões. Os conteúdos das disciplinas escolares não são um fim, mas um meio. O fim é a autonomia que permite que novos pesquisadores, docentes e, especialmente seres humanos melhores se formem. Por isso, numa verdadeira universidade os alunos aprendem dentro da sala de aula e fora dela. A categoria dos professores não é obrigada a participar de uma greve que ela não decidiu, contudo, ela tem o dever de prestar solidariedade aos seus alunos. Solidariedade não exige concordância ou participação. O que se espera é apenas que os professores não se comportem como patrões dos seus alunos, vociferando pedidos de punição e praticando a humilhação daqueles que ele tem o dever de ajudar a se auto-educar. Os alunos são a única categoria desinteressada na universidade pública. Não lutam por salário ou privilégios. Em suas ações cometem erros táticos e exageros utópicos. Ainda bem! Entre o "erro" de uma porta quebrada ou um piquete erguido e o acerto de malversações de verba pública decididas por uma cúpula que não é eleita e não se reporta a ninguém, o que você prefere?"

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